"O génio do espírito sociável reside numa sábia administração da solidão."
Viriato Soromenho-Marques, Pontos de Vista
terça-feira, 27 de outubro de 2009
§12. Solidão (2)
"Na solidão, as luzes não se apagam. Apenas diminuem, como fogueiras nocturnas numa praia batida por uma brisa tardia."
Viriato Soromenho-Marques, Pontos de Vista
Viriato Soromenho-Marques, Pontos de Vista
§16. Lucidez (2), Viriato Soromenho-Marques
"Para quê outros vícios se temos a virtiginosa paixão da lucidez?"
Viriato Soromenho-Marques
Viriato Soromenho-Marques
§19. Alegria (1), Viriato Soromenho-Marques
"A alegria de viver nasce no interior mais íntimo da 'alma', nessa zona limite onde habita uma substância sem nome. A alegria de viver nada tem a ver com o cálculo do entendimento ou com a análise de custo-benefício da experiência mundana.
Aquele que transporta a alegria de viver vê-se muitas vezes a si próprio como que, involuntariamente, acometido por ela. A essência da alegria de viver é o transbordar. Transmite-se aos músculos, transforma-se num riso expansivo, num afago, numa voz de tom mais solto e vibrante.
A alegria de viver não causa a admiração que, por exemplo, as proezas físicas ou intelectuais suscitam. O tipo de sentimento causado junto de quem a testemunha está mais próximo da solenidade do respeito. Quem é alegre vive numa zona vizinha daquele que é bondoso até à fronteira da santidade. Ambos habitam no reino do dom e da graça."
Viriato Soromenho-Marques, Pontos de Vista
Aquele que transporta a alegria de viver vê-se muitas vezes a si próprio como que, involuntariamente, acometido por ela. A essência da alegria de viver é o transbordar. Transmite-se aos músculos, transforma-se num riso expansivo, num afago, numa voz de tom mais solto e vibrante.
A alegria de viver não causa a admiração que, por exemplo, as proezas físicas ou intelectuais suscitam. O tipo de sentimento causado junto de quem a testemunha está mais próximo da solenidade do respeito. Quem é alegre vive numa zona vizinha daquele que é bondoso até à fronteira da santidade. Ambos habitam no reino do dom e da graça."
Viriato Soromenho-Marques, Pontos de Vista
...de Agostinho da Silva
"Se jamais te faltar a coragem para afrontar os dias em que nada se passa, poderás sem receio esperar os tempos em que o mundo se vira."
Agostinho da Silva
Agostinho da Silva
...de Goethe
"Conhecer alguém aqui e ali que pensa e sente como nós, e que, embora distante, está perto em espírito... eis o que faz da Terra um jardim habitado"
Goethe
Goethe
sábado, 17 de outubro de 2009
Arca Azul
«Não desisti de habitar a arca azul
do antiquíssimo sossego do universo.
A minha ascendência é o sol e uma montanha verde
e a lisa ondulação do mar unânime.
Há novecentas mil nebulosas espirais
mas só o teu corpo é um arbusto que sangra
e tem lábios eléctricos e perfuma as paredes.
Aos confins tranquilos entre ilhas mar e montes
vou buscar o veludo e o ouro da nostalgia.
Deponho a minha cabeça frágil sobre as mãos
de uma mulher de onde a chuva jorra pelos poros.
Ó nascente clara e mais ardente do que o sangue,
sorvo o cálice do teu sexo de orquídea incandescente!
A minha vida é uma lenta pulsação
sob o grande vinho da sombra, sob o sono do sol.
Há bois lentos e profundos no meu corpo
de um outono compacto e negro como um século.
Com simultâneas estrelas nas têmporas e nas mãos
a deusa da noite, sonâmbula, desliza.
Ao rumor da folhagem e da areia
escrevo o teu odor de sangue, a tua livre arquitectura.
Prisioneiro de longínquas raízes
ergo sobre a minha ferida uma torre vertical.
Vislumbro uma luz incompreensível
sobre os campos áridos das semanas.
Elevo o canto profundo do meu corpo
sob o arco das tuas pernas deslumbrantes.
Escrevo como se escrevesse com os meus pulmõe
sou como se tocasse os teus joelhos planetário
sou adormecesse languidamente no teu sexo.»
António Ramos Rosa
do antiquíssimo sossego do universo.
A minha ascendência é o sol e uma montanha verde
e a lisa ondulação do mar unânime.
Há novecentas mil nebulosas espirais
mas só o teu corpo é um arbusto que sangra
e tem lábios eléctricos e perfuma as paredes.
Aos confins tranquilos entre ilhas mar e montes
vou buscar o veludo e o ouro da nostalgia.
Deponho a minha cabeça frágil sobre as mãos
de uma mulher de onde a chuva jorra pelos poros.
Ó nascente clara e mais ardente do que o sangue,
sorvo o cálice do teu sexo de orquídea incandescente!
A minha vida é uma lenta pulsação
sob o grande vinho da sombra, sob o sono do sol.
Há bois lentos e profundos no meu corpo
de um outono compacto e negro como um século.
Com simultâneas estrelas nas têmporas e nas mãos
a deusa da noite, sonâmbula, desliza.
Ao rumor da folhagem e da areia
escrevo o teu odor de sangue, a tua livre arquitectura.
Prisioneiro de longínquas raízes
ergo sobre a minha ferida uma torre vertical.
Vislumbro uma luz incompreensível
sobre os campos áridos das semanas.
Elevo o canto profundo do meu corpo
sob o arco das tuas pernas deslumbrantes.
Escrevo como se escrevesse com os meus pulmõe
sou como se tocasse os teus joelhos planetário
sou adormecesse languidamente no teu sexo.»
António Ramos Rosa
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
Agostinho da Silva
«É só bem dentro de nós
que o projecto se anuncia
se retoma se reforma
e se solta à luz do dia»
Agostinho da Silva,
quadras inéditas
que o projecto se anuncia
se retoma se reforma
e se solta à luz do dia»
Agostinho da Silva,
quadras inéditas
segue o teu destino
Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.
A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.
Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.
Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada podeDizer-te.
A resposta
Está além dos deuses.
Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.
Ricardo Reis
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.
A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.
Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.
Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada podeDizer-te.
A resposta
Está além dos deuses.
Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.
Ricardo Reis
Se for infnito será Uno
"Se for infinito será Uno.
Dois não podem ser infinitos, limitar-se-ão mutuamente."
Melisso de Samos, cerca de 500 a.C.
Dois não podem ser infinitos, limitar-se-ão mutuamente."
Melisso de Samos, cerca de 500 a.C.
sábado, 10 de outubro de 2009
33
bom dia flor,
maravilhoso esplendor
em fruto futuro caroço
movimento de vento ainda em esboço
sementinha espreguiçosa de sol
deixa-te ir longe para lá do tempo e lugar
abre os braços verdes
ergue-te plena para fora de ti
rasga o peito avulcanado de rosas e pepitas flamejantes
desdobra-te em múltipla unidade transbordante
oferece-se
num sempre vário amanhecer
prostra-se do nascente ao mar sem fim
descobrindo o coberto e anunciando a boa nova a toques de clarim
onde o luzeiro posto além no horizonte querido
somente avistado da ponte intermédia,
em lugar nenhum
sonhado,
acontecido, se reencarna no outro lado das coisas
iluminando os mistérios,
velando antigos segredos que as coisas encerram em si
beijando o esbracejar aflito
salvando,
curando,
transmudando dos frios cadentes tristes
desolados existentes carecidos de cor
metamorfoseando a dor
..e tudo rosa, azulece, esverdeia rubras vontades
multicolorindo os múltiplos caminhos
para as infindas pequenas e grandes verdades
amarelecendo outonais violantes
que maduras, belas, fulminantes
se dão ao chão do laranjal...
numa perfeita união
esperam de novo albas de dedos macios entretocados
um sempiterno renascer...
33
maravilhoso esplendor
em fruto futuro caroço
movimento de vento ainda em esboço
sementinha espreguiçosa de sol
deixa-te ir longe para lá do tempo e lugar
abre os braços verdes
ergue-te plena para fora de ti
rasga o peito avulcanado de rosas e pepitas flamejantes
desdobra-te em múltipla unidade transbordante
oferece-se
num sempre vário amanhecer
prostra-se do nascente ao mar sem fim
descobrindo o coberto e anunciando a boa nova a toques de clarim
onde o luzeiro posto além no horizonte querido
somente avistado da ponte intermédia,
em lugar nenhum
sonhado,
acontecido, se reencarna no outro lado das coisas
iluminando os mistérios,
velando antigos segredos que as coisas encerram em si
beijando o esbracejar aflito
salvando,
curando,
transmudando dos frios cadentes tristes
desolados existentes carecidos de cor
metamorfoseando a dor
..e tudo rosa, azulece, esverdeia rubras vontades
multicolorindo os múltiplos caminhos
para as infindas pequenas e grandes verdades
amarelecendo outonais violantes
que maduras, belas, fulminantes
se dão ao chão do laranjal...
numa perfeita união
esperam de novo albas de dedos macios entretocados
um sempiterno renascer...
33
não nos fizeram anjos
"Não nos fizeram anjos, mas deram-nos pés, pó e caminhos...
e assim voamos como sabemos, como meninos."
RisoletaC Pinto Pedro (in Venite In Silentio)
e assim voamos como sabemos, como meninos."
RisoletaC Pinto Pedro (in Venite In Silentio)
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